Eu odeio essa raça!’, teriam dito homens do exército que balearam jovem no Rio. Eles já chegaram esculachando e xingando”, explica Viviane. Botaram uma arma na cabeça dele e perguntaram-no: ‘Sua mãe sabe que você é assim?’ 1 gay é ASSASSINADO por dia no país. Quem tiver informação que possa levar aos autores, pode ligar para 0800-023-4567. O estudante descreveu o autor do disparo como gordo, baixo e com ‘língua presa’. Em depoimento, o estudante D. I. M. L., de 19 anos, que foi atingido na barriga, disse que os três autores da violência estavam com fardas camufladas azuis.

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http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/11/eu-odeio-essa-raca-teriam-dito-homens-que-balearam-jovem-no-rio.html

‘Eu odeio essa raça!’, teriam dito homens que balearam jovem no Rio

Mãe da vítima acusa soldados de homofobia.

“Ele disse para o meu filho: ‘Eu odeio essa raça!’”, contou Viviane, que prefere não revelar o sobrenome por temer represálias.

Segundo Viviane, o filho dela, de 19 anos, estava com um rapaz no Parque Garota de Ipanema: “Não era namorado dele. Eles tinham se conhecido naquele dia”, conta a mãe.

O crime ocorreu logo após o término da 15ª Parada do Orgulho LGBT, realizada na orla de Copacabana, também na Zona Sul, e que este ano defendeu a criminalização da homofobia.

“Meu filho contou que três militares abordaram os jovens que estavam no parque. Eles já chegaram esculachando e xingando”, explica Viviane. “Os três homens pediram os documentos de vários rapazes, inclusive os do meu filho. Botaram uma arma na cabeça dele e perguntaram-no: ‘Sua mãe sabe que você é assim?’ No que o meu filho respondeu que ‘sim’, um dos homens o empurrou contra o chão e deu um tiro nele”, acrescenta a mãe do estudante.

Em seguida, Viviane conta que os homens fardados mandaram o filho dela sair do local. “Mesmo baleado, e sentindo muita dor, meu filho conseguiu levantar e sair do parque, indo para o Arpoador. Lá, ele foi socorrido por uma patrulha da Polícia Militar, que o levou para o Hospital Miguel Couto”, concluiu.

De acordo com a Secretaria municipal de Saúde, o estudante teve alta no fim da manhã desta segunda, e não passou por cirurgia. A mãe dele contou que a bala atravessou a barriga, e não ficou alojada. “Os médicos fizeram um curativo, receitaram antibiótico, e mandaram a gente voltar ao hospital até sexta-feira, para avaliarem a necessidade de uma cirurgia”, explicou Viviane, acrescentando que o jovem já fez exame de corpo de delito no Instituto Médico legal (IML).

"Os militares teriam chegado ao grupo fazendo ameaças e, então, houve o disparo. Estamos em contato com o Exército para conseguir chegar aos suspeitos, já que a vítima nos disse que seria capaz de reconhecer o responsável pelo tiro", afirmou o delegado-adjunto Alessandro Thiers, da 14ª DP (Leblon), onde o caso foi registrado.

OMISSÃO DO EXÉRCITO

Local onde ocorreram agressões, em área vizinha ao Forte de Copacabana

Foto: Severino Silva / Agência O Dia

Exército nega envolvimento de soldados por não haver registros registros de disparos por militares na data do crime e que o local, o Parque Garota de Ipanema, não está sob a administração do Forte de Copacabana.

Pai desabafa

O ataque contra Douglas ocorreu por volta das 22h. De acordo com o pai do rapaz, o ourives Antônio Marcos, de 39 anos, o estudante e um rapaz, que ele conhecera na Parada Gay estariam trocando carícias quando os agressores chegaram:

— Meu filho contou que os três xingaram. Depois, um se afastou. Os dois que ficaram pediram o telefone de nossa casa e ameaçaram ligar para nos contar que o Douglas é gay. Meu filho disse que já havia nos contado e, então, um militar o empurrou. Meu filho caiu e o outro militar atirou.

Douglas foi socorrido por policiais militares. Ele prestou um depoimento informal no hospital e, depois de ter alta, esteve na delegacia para ser ouvido formalmente. Segundo Antônio Marcos, o filho assumiu sua homossexualidade há três anos.

— Nós aceitamos e amamos nosso filho de qualquer jeito. Mas sempre tive medo de que sofresse preconceito na rua — contou ele.

O ourives disse, ainda, que a família teme represálias:

— A situação em que nos encontramos é de um desconforto total. Quem deveria nos proteger faz uma coisa dessas com um garoto. É revoltante esse preconceito, essa homofobia toda.

AUTORES DA VIOLÊNCIA 3 HOMENS COM FARDAS CAMUFLADAS AZUIS ÀS 23 HORAS DE DOMINGO
Em depoimento, o estudante D. I. M. L., de 19 anos, que foi atingido na barriga, disse que os três autores da violência estavam com fardas camufladas azuis.

Como a cor não é habitual em uniformes do Exército, a informação pode mudar o rumo das investigações. O jovem contou na 14ª DP (Leblon) que estava com mais dois amigos e namorava um rapaz que conhecera na Parada Gay de Copacabana, quando foi abordado por três militares. Segundo D., o trio gritou vários palavrões e dois dos militares passaram a bater na cabeça dos homossexuais.

“Eles chegaram xingando, falando que era uma raça desgraçada. Um deles falou que se pudesse matava cada um de nós com as mãos. Levei pancadas na cabeça e eu caí sentado. Daí, o homem pegou a arma e me deu um tiro”, contou o estudante, que descreveu o autor do disparo como gordo, baixo e com ‘língua presa’. Os amigos do rapaz conseguiram fugir.

No início da tarde de ontem, ele recebeu alta do Hospital Miguel Couto, no Leblon. A família do jovem teme sofrer represálias.

Pais chocados com violência

Pai do estudante D., Antonio Marcos de Mello, de 39 anos, afirmou estar chocado com o crime. “Ele é gay, assume isso, e nós o respeitamos. Acima de tudo é um menino bom, tranquilo. A verdade é que a minha ficha ainda não caiu direito”, observou.

A mãe do jovem, Viviane Marques, de 37 anos, contou que os militares pediram a identidade do filho e o telefone da família. “Ele disse que os militares perguntaram se nós (os pais) sabíamos que ele é homossexual. E ele respondeu que sim. Isso irritou os homens.

O meu sentimento é de indignação com esse preconceito idiota. Sou estudante de Direito e, para mim, esse tipo de coisa é difícil de aceitar”, protestou Viviane.

“A denúncia do jovem é clara. A praça é tradicionalmente conhecida para namoros de homossexuais. A lei militar pune qualquer um em sua tropa que torne pública uma relação homossexual. Acho que isso intensifica mais ainda os valores moralistas e conservadores deles. Como coordenador do programa Rio contra a Homofobia, não posso deixar que mais um crime fique em pune. Quem tiver informação que possa levar aos autores, pode ligar para 0800-023-4567”, pediu.

Nascimento disse que, desde a criação do Centro de Referência LGBT, em julho, das 2 mil denúncias, 1.572 relatavam algum tipo de violência por homofobia. Segundo ele, um gay é assassinado por dia no país e mais de 70% dos homossexuais já sofreram violência por preconceito.

Reportagem de Isabel Boechat e Marcelo Victor