Educadores denunciam preconceito em cartilha de reforço escolar
JORNAL EXTRA
Zarolho é o oposto de bonito? Todo surfista é doidão? As duas relações estão implícitas nas cartilhas para reforço a 17,8 mil alunos, do 4 e 5 anos considerados analfabetos funcionais.
Na aula número 18 de um dos dois livros, no exemplo da sílaba "za", o material apresenta a palavra zarolho que, no dicionário, é explicada como: estrábico ou cego de um olho. Ao lado da palavra, o desenho de um menino vesgo. Para a professora Laura (nome fictício), o ensinamento pode incitar ao preconceito e à discriminação entre os colegas:
- Da forma colocada, expõe ao ridículo os colegas que forem vesgos - disse ela.
O comentário sobre a palavra só é dado no livro seguinte, na página 131. "O zarolho aqui é colocado apenas como uma reflexão", começa a explicação. "Você já reparou como é prazeroso viver com alguém que não é bonito mas é muito bondoso?", continua.
Exercício polêmico
Outro problema apontado foi a relação feita entre o surfista e o termo doidão. Numa questão que testa a compreensão de palavras iniciadas com a letra "d", o "adjetivo" doidão pode ser relacionado ao desenho de um surfista.
A Secretaria de Educação considerou o material pedagógico "consistente e adequado para a faixa etária dos alunos do 4 e 5 anos".
A coordenadora afirma que o material é utilizado em todo Brasil .
Especialistas em educação
O professor da rede municipal e doutorando em educação pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), Emílio Araújo acredita que associar zarolho a alguém não bonito e o termo doidão ao surfista é disseminar o preconceito na sociedade.
CHEGA DE PRECONCEITO
- Chega de preconceito. O que mais se vê nas turmas e na sociedade é a discriminação do diferente, do negro, do gordo, do portador de necessidade especial. O uso do zarolho dessa forma é absolutamente incorreto e absurdo. Já o doidão é desnecessário, fragmentado e discriminatório - disse ele.
O surfista Rico de Souza sugere que possa ter havido preconceito com os surfistas.
- Já foi o tempo em que os surfistas eram vistos como doidões de cabelos parafinados. Não sei qual é a resposta certa desta questão, mas, caso seja o adjetivo, é realmente muito triste saber que ainda existem pessoas com preconceitos em relação ao surfe.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo para sempre.