http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2016/06/1785298-banheiros-transgeneros.shtml
Volta e meia surgem notícias de que uma travesti criou caso para ter acesso ao banheiro feminino, contra a revolta dos circunstantes.
Isso não acontece apenas aqui. Países em que o nível educacional da população é mais elevado convivem com o mesmo problema.
Nos Estados Unidos, Estados como a Carolina do Norte aprovaram leis para exigir que os usuários de banheiros públicos se dirijam às áreas femininas ou masculinas, em obediência ao sexo que lhes foi atribuído ao nascer.
Com o argumento de que essas leis contrariam a legislação federal que rege os direitos civis, a administração Obama abriu processo contra a Carolina do Norte. O presidente foi mais longe: assinou um documento no qual ressalta a obrigação legal das escolas públicas em garantir a estudantes transgênero o direito de usar o banheiro que corresponda às identidades de gênero individuais. Onze Estados entraram na Justiça contra essa medida.
Os defensores de leis restritivas argumentam que são destinadas a proteger as mulheres, de eventuais ataques por parte de homens disfarçados com roupas femininas. Outros, colocam as travestis entre os predadores sexuais, os pedófilos e outras categorias moralmente condenáveis.
Essa gente faz questão de esquecer que as travestis e as mulheres transgênero são abusadas desde a infância, xingadas nas ruas, alvos da violência policial, escorraçadas pela sociedade e assassinadas por psicopatas.
O ultimo número do "The New England Journal of Medicine", a revista de maior circulação entre os médicos, traz uma discussão sobre o tema.
A questão dos banheiros vai além dos direitos civis, porque afeta a saúde. Por interferir com funções fisiológicas essenciais, dificultar o acesso a eles aumenta o risco de infecções urinárias, renais, obstipação crônica, hemorroidas e impede a hidratação adequada de quem evita beber água para conter a necessidade de urinar.
Repressão social e leis restritivas exibem o lado perverso de sociedades que consideram as pessoas "trans" depravadas, indesejáveis nas escolas, no trabalho e no convívio social. Na prática, justificam a violência diária cometida contra elas.
Transgêneros são mulheres e homens com identidade de gênero em discordância com o sexo da certidão de nascimento, escolhido pela aparência dos genitais externos. Os autores do artigo estimam que 700 mil americanos adultos pertençam a essa categoria. Se nossos números forem semelhantes, haveria perto de 500 mil entre nós.
Discriminação, agressões verbais, sexuais e físicas e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde causam problemas que vão muito além do direito de usar banheiros: ansiedade, estresse pós-traumático, prostituição, doenças sexualmente transmissíveis, abuso de drogas, depressão e taxas altas de suicídio.
Nós, médicos, não temos preparo para lidar com esses transtornos, nem com as questões clínicas, cirúrgicas e hormonais que afligem essas pessoas. O que entendemos da administração de hormônios femininos para quem nasceu com genitais masculinos ou vice-versa? Quantos cirurgiões estão habilitados a realizar cirurgias de readequação dos genitais?
Embora existam protocolos internacionais para o atendimento de transgêneros, quantos médicos sabem da existência deles? Quantos estão preparados para orientar familiares assustados e adolescentes confusos com a identidade sexual?
Aliados ao nosso despreparo, o preconceito, a discriminação e a má vontade dos profissionais intimidam e afastam mulheres e homens "trans" dos serviços de saúde, dificultam diagnósticos precoces e o acompanhamento de doenças crônicas.
Em pleno século 21, é ignorância inaceitável considerar distúrbios mentais, transtornos de personalidade ou falta de vergonha as expressões de gênero que não se enquadram no comportamento da maioria. Quem escolheria a transexualidade se encontrasse alternativa?
Quando formos mais civilizados, ser transgênero será considerado simples manifestação da diversidade humana, como ser destro ou canhoto. Até lá, a estupidez agressiva da sociedade causará muito sofrimento aos que não se enquadram nos modelos culturais previstos no binário masculino-feminino.
Isso não acontece apenas aqui. Países em que o nível educacional da população é mais elevado convivem com o mesmo problema.
Nos Estados Unidos, Estados como a Carolina do Norte aprovaram leis para exigir que os usuários de banheiros públicos se dirijam às áreas femininas ou masculinas, em obediência ao sexo que lhes foi atribuído ao nascer.
Com o argumento de que essas leis contrariam a legislação federal que rege os direitos civis, a administração Obama abriu processo contra a Carolina do Norte. O presidente foi mais longe: assinou um documento no qual ressalta a obrigação legal das escolas públicas em garantir a estudantes transgênero o direito de usar o banheiro que corresponda às identidades de gênero individuais. Onze Estados entraram na Justiça contra essa medida.
Os defensores de leis restritivas argumentam que são destinadas a proteger as mulheres, de eventuais ataques por parte de homens disfarçados com roupas femininas. Outros, colocam as travestis entre os predadores sexuais, os pedófilos e outras categorias moralmente condenáveis.
Essa gente faz questão de esquecer que as travestis e as mulheres transgênero são abusadas desde a infância, xingadas nas ruas, alvos da violência policial, escorraçadas pela sociedade e assassinadas por psicopatas.
O ultimo número do "The New England Journal of Medicine", a revista de maior circulação entre os médicos, traz uma discussão sobre o tema.
A questão dos banheiros vai além dos direitos civis, porque afeta a saúde. Por interferir com funções fisiológicas essenciais, dificultar o acesso a eles aumenta o risco de infecções urinárias, renais, obstipação crônica, hemorroidas e impede a hidratação adequada de quem evita beber água para conter a necessidade de urinar.
Repressão social e leis restritivas exibem o lado perverso de sociedades que consideram as pessoas "trans" depravadas, indesejáveis nas escolas, no trabalho e no convívio social. Na prática, justificam a violência diária cometida contra elas.
Transgêneros são mulheres e homens com identidade de gênero em discordância com o sexo da certidão de nascimento, escolhido pela aparência dos genitais externos. Os autores do artigo estimam que 700 mil americanos adultos pertençam a essa categoria. Se nossos números forem semelhantes, haveria perto de 500 mil entre nós.
Discriminação, agressões verbais, sexuais e físicas e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde causam problemas que vão muito além do direito de usar banheiros: ansiedade, estresse pós-traumático, prostituição, doenças sexualmente transmissíveis, abuso de drogas, depressão e taxas altas de suicídio.
Nós, médicos, não temos preparo para lidar com esses transtornos, nem com as questões clínicas, cirúrgicas e hormonais que afligem essas pessoas. O que entendemos da administração de hormônios femininos para quem nasceu com genitais masculinos ou vice-versa? Quantos cirurgiões estão habilitados a realizar cirurgias de readequação dos genitais?
Embora existam protocolos internacionais para o atendimento de transgêneros, quantos médicos sabem da existência deles? Quantos estão preparados para orientar familiares assustados e adolescentes confusos com a identidade sexual?
Aliados ao nosso despreparo, o preconceito, a discriminação e a má vontade dos profissionais intimidam e afastam mulheres e homens "trans" dos serviços de saúde, dificultam diagnósticos precoces e o acompanhamento de doenças crônicas.
Em pleno século 21, é ignorância inaceitável considerar distúrbios mentais, transtornos de personalidade ou falta de vergonha as expressões de gênero que não se enquadram no comportamento da maioria. Quem escolheria a transexualidade se encontrasse alternativa?
Quando formos mais civilizados, ser transgênero será considerado simples manifestação da diversidade humana, como ser destro ou canhoto. Até lá, a estupidez agressiva da sociedade causará muito sofrimento aos que não se enquadram nos modelos culturais previstos no binário masculino-feminino.
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