quinta-feira, 23 de julho de 2015

Professora transexual é demitida por preconceito. Como Luizão, deu aula no no Colégio Anglo Leonardo da Vinci por 5 anos. Ao virar Luiza, foi demitida. É evidente que a demissão da professa transexual, a transfobia, não é um caso isolado, não é uma questão pessoal, mas uma prática sistemática.

 
"Desde 2014 quando os patrões souberam eu comecei ser pressionada pra não errar por que eu não teria como me defender, como justificar minha demissão". 



COLÉGIO ANGLO É DENUNCIADO POR TRANSFOBIA
Léo Moreira Sá (Jornalistas Livres)
https://medium.com/jornalistas-livres/col%C3%A9gio-anglo-%C3%A9-denunciado-por-transfobia-e79f80bf9058



Pleno século 21 e o preconceito resiste e impera como se estivéssemos em 1900 e bolinha. Ainda. Dessa vez, com a filósofa Luiza Coppieters, professora há 6 anos no ensino médio do Colégio Anglo. Ela foi demitida mês passado exatamente após assumir sua transexualidade. Logo depois da transição, ocorrida em 2014, seu espaço e atuação dentro da escola foi gradualmente sendo delimitado. Ela sofreu cortes de número de aulas e a diminuição de seu salário, o que inclusive é CRIME TRABALHISTA. Tudo isso, como forma de pressão do colégio para que Luiza se demitisse.

Esse clima de opressão gerou um forte desequilíbrio emocional na professora, que precisou se afastar do trabalho no começo desse ano para se submeter a um tratamento psíquico com diagnóstico de "SÍNDROME DO PÂNICO". Quando se preparava para retornar as atividades, a professora recebeu a rescisão contratual.

Luiza começou a lecionar em 2009, como "professor" de Oficina de Ciências Humanas, ainda se apresentando com a expressão de gênero masculina. A partir de 2010, assumiu a cadeira de Filosofia assim que a matéria se tornou obrigatória pelo MEC (Ministério da Educação), desenvolvendo um excelente trabalho, sendo reconhecida pela direção da escola como profissional CAPAZ e DEDICADA.


"SEMPRE FUI MUITO PARTICIPATIVA E ENVOLVIDA COM AS ATIVIDADES DA ESCOLA, DESENVOLVENDO VÁRIOS TRABALHOS, MONTANDO E COORDENANDO GRUPOS DE DEBATES, VISANDO A FORMAÇÃO HUMANA E CRÍTICA DOS ALUNOS, DE MODO A PROPICIAR E DIVULGAR MEU CONHECIMENTO, E, SOBRETUDO, CONTRIBUIR NO DESENVOLVIMENTO DE CIDADÃOS CONSCIENTES E PARTICIPATIVOS".


Antes da transição, Luiza foi preparando as pessoas da escola, explicando cada passo para todos os alunos, que não só compreenderam como se solidarizaram. A reação transfóbica veio mesmo a partir da direção da escola.




Num momento de levante fundamentalista, em que as igrejas católica e evangélica se unem para derrubar a proposta de inserção de mecanismos de informação e defesa contra a homo-lesbo-transfobia nos Planos Municipais de Educação, essa denúncia deve ser encampada por todos nós, e transformada em bandeira de luta contra a transfobia nas instituição de ensino.  No caso de uma professora transexual, não valeria o veto à tal "Ideologia de Gênero", (expressão dada pelo papa Bento XVI que reduz as lutas feministas e LGBTs a uma "conspiração ideológica" com o objetivo de destruir a família e a igreja católica), porque ela própria seria a incorporação dessa ideologia.

Em especial nós travestis, mulheres transexuais e homens trans, temos sido perseguidos implacavelmente nas instituições educacionais, seja como alunos ou como professores. Quando somos crianças, somos alvos fáceis das mais diversas violências, inclusive física no ambiente escolar, o que torna muitas vezes impossível a frequência nas aulas. A evasão escolar da população T é dramática e infelizmente não temos estatística que nos forneça números reais. Somos invisibilizadas e excluídas até nisso. Mas basta constatar empiricamente o grande número de pessoas Ts, em especial travestis, que mal tem o ensino fundamental, e vivem de subempregos ou da prostituição.

Quando, por resistência titânica, conseguimos sobreviver à transfobia na escola e chegamos à faculdade, temos que enfrentar outro grande fantasma: o mercado de trabalho. Trabalho fazendo uma assessoria voluntária no projeto Transempregos, que é um site que abriga os currículos de pessoas Ts a procura de emprego. Temos por volta de quinhentas pessoas esperando uma colocação, mas infelizmente foram poucas as empresas que entraram no site e empregaram alguma proponente. O transempregos está agora fazendo contato com multinacionais que tem compromisso com pessoas LGBTs, para começar a agilizar a inserção de pessoas Ts no mercado formal de trabalho. 

Luiza faz parte de uma parcela privilegiada de pessoas Ts que conseguiram se alçar ao ensino superior sem desistir pelo caminho. Mas assim que assumiu sua transexualidade e talento não foram suficientes, e seu direito de ser educadora foi cassado por uma instituição particular, voltada para treinar adolescentes para o vestibular, obviamente atrelada às "leis do mercado". A direção dessa instituição privada teve medo de perder alunos/lucros, mas a reação dos estudantes foi exatamente o contrário. É só visitar a TL do facebook de Luiza para ver a quantidade de mensagens de apoio e igual quantidade de mensagens de repúdio à demissão da professora.

A professora Luiza tinha um relacionamento lindo com os alunos. Mas era assediada e passou o ano ouvindo "Você não pode errar". Passou um processo agudo mental. Em março de 2015, ela ficou sabendo que a escola havia reduzido suas aulas e cortado seu salário em dois terços. Ela caiu em depressão, saiu em licença médica para tratamento, e, doente, tentou o suicídio duas vezes.

Em 29 de junho, veio o golpe final: a escola anunciou que, após seis anos de trabalho, ela havia sido demitida sem justa causa.

FOTO: Jornal Extra
http://extra.globo.com/noticias/brasil/professora-transexual-demitida-acusa-escola-de-preconceito-16901810.html#ixzz3gjJGnzWP


A Luiza Coppieters em 2014 revelou para todos que era transexual. Foi a partir daí que os problemas com a direção do Colégio Anglo Leonardo da Vinci começaram a surgir.

A professora Luiza sempre foi muito querida pelos alunos. Quando se assumiu transexual, em meados de 2014, a reação dos estudantes foi muito positiva. Porém, a direção não aceitou a transformação - a carga horária na escola foi reduzida e a afastaram das turmas do primeiro ano do ensino médio, mesmo sem o seu consentimento. Por conta disso, o salário foi reduzido a um terço do que recebia. Além disso, o Anglo cancelou os grupos de debate que mantinha com os alunnos, onde discutiam assuntos variados, e proibiu a professora Luiza de falar sobre assuntos ligados a gênero nas salas de aula.

Ela foi destruída como professora e psicologicamente. Ficou muito mal, entrou em depressão. Além disso, quando reduziram a sua carga horária, sem o seu consentimento, disseram que o salário seria mantido. Porém, não foi isso o que aconteceu. Quando ela questionou, apenas a orientaram a procurar o RH. Ela teve que vender alguns dos seus livros e pedir empréstimos no banco para conseguir se sustentar. A direção nunca a procurou para conversar sobre o assunto.

Nos meses seguintes, por conta da depressão e de uma síndrome do pânico, a professora Luiza se licenciou da escola por cerca de quinze dias. Em junho, para a sua surpresa, ela recebeu uma ligação do RH avisando que seria demitida. Alguns pais reclamaram da professora por causa da sua condição de gênero para a direção manifestando transfobia. Nossa sociedade é muito conservadora e autoritária, as escolas são o reflexo disso.


FOTO: (Rafael Bonifácio) LUIZA EM CASA AO LADO DA BIBLIOTECA COM MAIS DE 3 MIL LIVROS.

Uma das lições mais bonitas que a estudante Pietra Costa, 16 anos, recebeu na escola foi testemunhar a transformação do seu professor de filosofia em uma mulher. "Foi lindo", lembra a aluna do Colégio Anglo Alphaville, que em novembro do ano passado, fazia parte de uma das turmas que viu o "professor Luizão" dizer diante dos alunos: "O tio na verdade é tia Luiza. Eu sou transexual".

Naquele gesto, os estudantes receberam uma aula extracurricular sobre identidade de gênero e superação de preconceitos. Pietra conta que os alunos acolheram a novidade e sentiram "uma admiração intensa por Luiza, "pela coragem de se comprometer com tudo aquilo que poderia encontrar para ser quem ela é e por permitir que participássemos daquele momento".

A mesma admiração que já sentiam pelo velho Luizão, que, muito antes de trocar a barba pelo batom vermelho, adorava mexer com a cabeça de seus alunos. "Luiza foi de longe uma das melhores professoras que tive. As coisas que aprendi com ela são imensuráveis, desde Sócrates até lidar com a minha vida e com o meu ser, minha existência", diz outra aluna, Marina Sahyon, 15 anos.


FOTO: Jornal Extra
A professora transexual foi afastada de algumas turmas do ensino médio e o salário caiu para menos da metade.


 

A PRÁTICA SISTEMÁTICA E TRANSFÓBICA DA DEMISSÃO DE PROFESSORAS TRANSEXUAIS E O PRECONCEITO NO MERCADO DE TRABALHO. TRANSFOBIA NAS ESCOLAS E NA EDUCAÇÃO PÚBLICA E PARTICULAR. Luíza Coppieters, Camila Godoi, Vitória Bacon, Laysa Carolina Machado, Sangita, Nicolly Bueno, "Natiely", Dávila Medeiros, Mayte Pradocampos, Herbe de Sousa, Thalia Agnys e Faiza Khálida  foram algumas professoras transgêneras, transexuais ou travestis que foram demitidas, perseguidas com relatórios difamatórios, desviadas de função, desprezadas, devolvidas, agredidas, discriminadas, rejeitadas, difamadas, julgadas, condenadas, que sofreram desgastes emocionais, bullying, chacotas, assédio, constrangimento ou que passaram a ter problemas de saúde como depressão e síndrome do pânico por causa do preconceito às suas identidades de gênero.
http://faizakhalida.blogspot.com.br/2016/07/transfobia-nas-escolas-e-na-educacao.html



PONT.ORG (Fausto Salvadori Filho 15/07/2015)
http://ponte.org/como-luizao-deu-aula-no-anglo-por-5-anos-ao-virar-luiza-foi-demitida/
Nos dias de hoje, ou de qualquer tempo, é de se imaginar que uma escola fosse valorizar uma professora capaz de ensinar "coisas imensuráveis" e tudo que se pode encontrar para ser quem se é". Mas o Colégio Anglo Leonardo da Vinci, onde Luiza Coppieters, 35 anos, lecionava desde 2009, dando aula nas cinco unidades do grupo (em Alphaville, Granja Viana, Osasco, Taboão da Serra e Vila São Francisco, todos na Grande SP) - não viu com esse olhar.

Em março de 2015, Luiza ficou sabendo que a escola havia reduzido suas aulas e cortado seu salário em dois terços. Ela caiu em depressão, saiu em licença médica para tratamento e tentou o suicídio 2 vezes. Em 29 de junho, veio o golpe final: a escola anunciou que, após 6 anos de trabalho, ela havia sido demitida sem justa causa.

Luiza foi mandada embora por ter assumido sua transexualidade, a única justificativa para a sua demissão.

A perda do emprego foi um entre outros obstáculos que enfrentou após sua transição de gênero. Sair da posição de homem branco de classe média para a de mulher trans foi como como "sair do topo do capital e ir para o último lugar da escala". Seu cotidiano passou a se povoar de medos e limites que muitas pessoas nem imaginaram que existam.

 
"Saí de uma situação de classe média e estou descendo cada vez mais rápido".

Sair sozinha à noite para comprar um maço de cigarros no posto de gasolina, algo que Luizão fazia sempre, é um hábito que Luiza evita. Das vezes em que fez isso, ficou assustada com os olhares que recebeu e percebeu que era a única mulher naquele horário e local. Por duas vezes, já foi seguida por carros ao voltar a pé sozinha para casa. Se Luizão, ao sair na rua à noite, só tinha receio de ser assaltado, Luiza passou a lidar com o medo de apanhar e ser estuprada. "Comecei a perceber violências clássicas que as mulheres sofrem diariamente". Mas nenhum problema é capaz de fazer Luiza se arrepender da sua mudança, que veio lhe trazer uma paz como não conheceu al longo das três décadas de angústia que viveu como homem sem conseguir entender os próprios desejos. "Eu pensava: eu gosto de mulher, então não sou viado". Era um desejo confuso de ser e ter. Eu queria ter as mulheres lindas, mas ao mesmo tempo queria ser como elas".

Formada em filosofia pela USP em 2004, tudo mudou em 2012, no dia em que foi a um restaurante japonês com um amigo e viu um casal de meninas numa mesa ao lado. "Fiquei transtornada. Percebi que não queria estar ali com elas, eu queria ser uma delas". E concluiu: "Sou lésbica".

A metamorfose começou com Luiza entrando em supermercados às 2 da manhã, atrás de lingeries para usar escondida em casa, e prosseguiu com o corte da barba a laser e o tratamento hormonal. Durante quase dois anos, foi uma trans no armário. Pintava as unhas de vermelho em casa, mas ao ir para a escola removia tudo com acetona e ainda usava jaleco para esconder os seios que ameaçavam a aparecer.

Só no final de 2013 Luiza contou o segredo aos professores do Anglo. De início aceitaram bem. Mas a partir daí, Luiza começou a perder espaço na escola.

MULHER DE MEIO EXPEDIENTE

No começo de 2014, Luiza perdeu os grupos de debates que coordenava. No segundo semestre, foi proibida de abordar assuntos de gêneros e sexualidade na sala de aula. Logo ela, que vivia usando as diferenças entre homens e mulheres para fazer os alunos questionarem verdades estabelecidas e aprenderem a pensar. "Já que não tem preto aqui, vou falar de mulher, porque quero incomodar vocês", costumava dizer na abertura do curso. E incomodava.

"Vocês sabiam que vão ganhar 30% a menos do que eles quando estiverem no mercado de trabalho?, costumava perguntar às meninas. "Ele cutucava o que tinha de mais enraizado nos alunos e mostrava as contrariedades e hipocrisias de tudo aquilo em que estávamos imersos por sermos parte da sociedade", recorda a aluna Pietra.



A professora tinha o respeito dos seus alunos. mas outras pessoas tiveram preconceito a fim de tentar destruir a vida de uma pessoa em situação de vulnerabilidade.

A professora manteve ao longo do ano a rotina de mulher de meio expediente, continuando a ser Luiz para os alunos. A revelação só veio em novembro, quando os alunos descobriram um perfil feminino que Luiza havia criado no Facebook. Muitos pensaram que fosse algum tipo de protesto contra o machismo. "O que é aquilo, professor?", perguntaram. Mesmo com medo do que podia acontecer, Luiza foi em frente. Foi aí que respondeu: "O tio Luiz na verdade é tia Luiza. Eu sou transexual".

"A reação dos estudantes foi muito positiva. Houve aceitação e respeito apesar do estranhamento de alguns poucos alunos no começo", lembra a aluna Mariana. Na saída de um dos colégios, Luiza conta que um aluno a abraçou e disse: obrigado, professora". Os estudantes passaram imediatamente a tratar a professora no feminino, disseram que podia vir com roupas femininas o quanto antes e, nas provas, riscavam os textos em que o nome dela aparecia com LUIZ, escrevendo LUIZA por cima.

Após se revelar na escola, voltando para casa, à noite, pela Raposo Tavares, Luiza teve a sensação de que "seu peito se abria de lá saia voando uma revoada de pássaros ou morcegos", sei lá. Um mal estar que sempre havia sentido, um gosto cinza que morava dentro dela. Lembrou de que quando tinha 5 anos e pediu às estrelas cadentes de praia que a transformassem numa menina. "Eu pensava: foram 30 anos de um sonho que agora está acontecendo. As noites de insônia, as angústias, todos os dramas, tudo foi embora. Estou viva".

ÚLTIMA LIÇÃO

Estava pronta para ser feliz, mas o mundo à volta de Luiza não iria facilitar. Diferente dos alunos, os pais não acolheram a novidade com tanto entusiasmo. "Uma grande parcela não aceitou e falou coisas do tipo "como ela vai dar aula agora?", como se o fato dela ser mulher trans mudasse o intelecto que ela tem", conta Mariana. Bem que os  adultos desta história poderiam aprender algumas lições com seus filhos.

No ano seguinte, vieram os cortes de quase 70% no salário e nas aulas. "Os caras foram me destruindo como professora", conta. Desesperada, Luiza começou o ano letivo vendendo parte da sua coleção de livros, acumulada ao longo de anos, para pagar as contas. "No meu primeiro Dia das Mulheres, estou vendendo meus filhos", escreveu no Facebook em 8 de março. Sentiu-se ainda pior ao perceber que nunhum professor lhe ofereceu apoio. "Aquele silêncio à minha volta me fez muito mal".

Mergulhou na depressão e tentou suicídio 2 vezes. Na primeira, tomou todos os antidepressivos que tinha em casa. "Descobri que não mata, só zoa". Na segunda, passou 4 dias sem comer, enchendo-se de remédios para dormir tentando morrer de inanição. Foi salva pelos amigos.

Ao ser demitida, estava tão deprimida que passou um tempo sem saber como reagir. Não estava pensando direito. Achava que a culpa era minha".




DIÁRIO DA MANHÃ
http://www.dm.com.br/cidades/2015/07/professora-alega-ter-sido-demitida-de-escola-por-ser-transexual.html

PROFESSORA FOI DEMITIDA DE ESCOLA POR SER TRANSEXUAL


Luiz Otávio Coppieters passou a vida inteira com o desejo de acordar mulher. Quando decidiu ser Luiza perdeu o emprego.

Luiz Otávio Pereira Coppieters, hoje Luiza, professora de filosofia, teve uma surpresa quando resolveu assumir sua transexualidade: a demissão. Conforme o site G1, de São Paulo, ela foi demitida em junho deste ano, por preconceito. A revelação ocorreu no final de 2014, mas a demissão aconteceu neste ano.

De 2009 a 2013, a educadora, de 35 anos, formada pela Universidade de São Paulo (USP), dava aulas no colégio inicialmente como Luiz Coppieters. Em 2014, porém, ela contou aos alunos que o professor Luizão era, "na verdade", Luiza. A transição entre os gêneros havia se tornado pública em novembro passado, quando ela postou uma foto maquiada no Facebook, o que aguçou a curiosidade.

"Eu era o Luizão, o ogro do Anglo, para você ter uma ideia o nível que eu cheguei lá", disse a professora. "Na terceira turma, tinha um moleque mais solto e: "ô, Luizão que que é aquele seu pseudofacebook lá?" "Ah, então vocês querem saber. É o seguinte: eu sou transexual. O tio Luiz na verdade é tia Luiza".

A partir deste momento, saiu de cena Luiz e entrou a professora Luiza. "Na verdade não é que eu me descobri transexual. Foi uma coisa assim: eu não aguento mais viver como homem", afirmou. "Eu passei minha vida inteira, milhares de noites, sem dormir, querendo acordar mulher, acordar menina. Sempre tive essa angústia".


http://globotv.globo.com/globocom/g1/v/professora-transexual-e-demitida-de-escola-particular-em-sp-e-denuncia-discriminacao/4340004/http://globotv.globo.com/globocom/g1/v/professora-transexual-e-demitida-de-escola-particular-em-sp-e-denuncia-discriminacao/4340004/



G1 (Kleber Tomaz)
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/07/em-video-professora-alega-ter-sido-demitida-de-escola-por-ser-transexual.html


PROFESSORA É DEMITIDA DE ESCOLA POR SER TRANSEXUAL

Aluna defende professora, que chegou a ganhar PLACA DE RECONHECIMENTO.


Uma professora de filosofia de um colégio particular da Grande São Paulo foi demitida em junho de 2015 por preconceito após ela revelar, no fim de 2014, que é uma transexual.

A professora passou a sua vida inteira, milhares de noites sem dormir, querendo acordar mulher, acordar menina. "Sempre tive essa angústia".

De 2009 a 2013, a educadora de 35 anos, formada pela Universidade de São Paulo (USP), dava aulas no colégio inicialmente como Luiz Otávio. Em 2014, porém, ela contou  aos alunos que o professor Luizão era, "na verdade", Luiza. A transição entre os gêneros havia se tornado pública em novembro de 2014, quando ela postou uma foto maquiada no Facebook, o que aguçou a curiosidade dos estudantes.

"Eu era o Luizão, o ogro do Anglo, para você ter uma idéia o nível que eu  cheguei lá", disse a professora. "Na terceira turma tinha um moleque mais solto e : Ô, Luizão, que que é aquele seu pseudofacebook lá? "Ah, então vocês querem saber. É o seguinte: eu sou transexual. O tio Luiz na verdade é tia Luiza", disse.

A partir deste momento, saiu de cena Luiz e entrou a professora Luiza. "Na verdade não é que eu me descobri transexual. Foi uma coisa assim: eu não aguento mais viver como homem", afirmou. "Eu passei minha vida inteira, milhares de noites, sem dormir, querendo acordar mulher, acordar menina. Sempre tive essa angústia".

Ela então começou a ser tratada pelo feminino dentro do colégio: Luiza. Abandonou as roupas masculinas usadas para esconder os seios, que despontavam em razão do uso contínuo de hormônios que vinha tomando desde 2012 (ela não fez cirurgia de mudança de sexo). Passou a dar aulas com cabelos compridos e soltos, sombrancelhas feitas, batom, maquiagem, esmalte, calçados e vestuário de uma mulher comportada. "Foi muito legal que, na semana seguinte, ninguém tocou no assunto. Os alunos começaram a trazer lá o texto do Platão sobre o Sócrates ou comentadores que eu passo para eles lerem e começarem a trazer os livros", lembrou Luiza.




FOTO: Victor Moriyama/G1
Professora Luiza Coppieters mostra foto na qual aparece como Luiz, o professor Luizão; ela foi demitida do Anglo  após revelar aos alunos que é transexual.


DEMISSÃO

Em 24 de junho deste ano, no entanto, ela foi demitida sem justa causa da escola por meio de uma carta. Acabou desligada das unidades Alphaville, em Barueri; Granja Viana, em Cotia; Osasco e Taboão da Serra. Apesar de ter tido o apoio de estudantes e até dos pais deles, a escola não aceitou a sua transição de gênero e a demitiu.

"Não tem justa causa. Eu não tenho advertência. O motivo da demissão foi transfobia. Foi preconceito. Duas coisas: de um lado o preconceito, mas associado com interesse econômico. Medo de perder aluno, por exemplo".

Luiza passou a sofrer pressão desde que se tornou mulher transexual lésbica. "Minha orientação sexual é voltada para as mulheres, né? O meu desejo pelas mulheres, né? Então, pelo fato de eu gostar de mulher e querer ser mulher sempre foi muito confuso, disse a professora, que, antes da demissão, teve sua carga horária reduzida no Anglo e foi afastada das turmas do primeiro ano. Seu salário diminuiu.


FOTO: Anglo Alphaville: (Victor Moriyama/G1)

"Nessa conversa com o Anglo falaram o segunte: você não vai falar mais sobre gênero, sobre sexualidade". Em 2013, quando era o professor Luisão, chegou a ganhar uma placa do colégio em reconhecimento pelo trabalho.

"Eu me senti discriminada", falou a professora, que soube da demissão após voltar de uma licença médica em razão da depressão adquirida na escola. "Eu tirei porque eu cheguei a ficar com uma síndrome do pânico. Não conseguia sair de casa".


REDES SOCIAIS

Nas redes sociais, alunos e pais chegaram a demonstrar apoio a Luiza. Uma foto postada no Facebook representa bem a reação deles. "Nos ensinam a ser humanos e nos tratam como animais. Contra a transfobia", escreveram os estudantes numa lousa do Anglo.

"Fui uma aluna da Luiza durante meus três anos de ensino médio. Ou melhor, do Luizão nos dois primeiros e da Luiza apenas no terceiro", declarou Letícia Meirelles, de 18 anos, que atualmente faz cursinho no Anglo. "Curiosamente, somente em 2014, quando "Luizão" se assumiu "Luiza" para seus alunos, suas aulas melhoraram de forma extrema".


FOTO: Alunos do Anglo escreveram na lousa (G1)

Para a professora Neiva Salete, de 51 anos, Giovanna Orlovski Nogueira, de 16, sua filha, passou a demosntrar mais interesse nas aulas de filosofia quando foi aluna de Luizão e Luiza. "O que me chamava a atenção era que minha filha lia textos nas aulas da época que eu estava na faculdade. Nesse período ela foi questionadora e reflexiva.

"O preconceito a gente sabia que ia vir, disseram que ela estava afastada, mas todos presumiam que ela seria demitida pela transição de homem e mulher", afirmou Giovanna.

Um porteiro da unidade Alphaville também elogiou Luiza. Sob a condição de não dar seu nome, ele falou que ela é uma ótima professora, sempre pontual e querida por todos".



FOTO: Professora Luiza Coppieters na sala de aula com alunos (G1)


CAMPANHA NACIONAL: "Sou Trans e quero Dignidade e Respeito".

É evidente que a demissão da professa transexual não é um caso isolado, não é uma questão pessoal, mas é uma prática sistemática.

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