sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Quando eu tive condições de superar todas essas barreiras e dificuldades e mesmo em muitos momentos de tribulação nas escolas por causa do preconceito, da desvalorização do nosso trabalho e da nossa dignidade enquanto pessoa, funcionária pública e profissional da educação, eu usei do dom que Deus me dava para fazer o bem, eu amei as pessoas verdadeiramente com o coração puro, eu respeitei, me doei ao trabalho dedicadamente e tinha sempre a sensação do dever cumprido e realizado.


Muitos alunos da escola municipal Jorge Ayres de Lima participavam de comunidades da antiga rede social do ORKUT como EU ODEIO ESTUDAR.


As aulas eram paradas, chatas para muitos alunos. Isso incentivava a indisciplina de muitos alunos na escola.  Muitos alunos queriam respirar, sair da sala, ir ao banheiro, ficar no pátio da escola por alguns instantes. Eu sentia que a prática da manutenção dos alunos horas quietos, calados, pensativos sentados numa cadeira de madeira dura ía contra a natureza de muitos deles que precisavam do movimento, do ir e vir, do pensar em ação, de expressar corporalmente e fisicamente o que viviam, sonhavam e aprendiam.


Muita gente me criticava quando eu colocava os alunos para ouvir música, som, repetições orais. Tentava deixar os alunos interagindo em sala de aula. Eu sentia que tinham pessoas que consideravam isso absurdo. Achavam absurdo que eu deixasse que os alunos se expressassem como se trabalhar oprimindo a expressão corporal dos alunos fosse a única forma aceitável naquele sistema. 


O movimento dos alunos parecia ser uma ameaça para muita gente. Eu acreditava que as pessoas tinham o direito de concordar ou discordar da forma como outro professor trabalhava. Mas eu não concordo que se devia punir um professor que possuía uma linha diferenciada, que atuasse em aulas mais dinâmicas.


Por outro lado eu também concordo que não se devesse punir um aluno que questionava as aulas em que ele devia passar todo o tempo copiando o conteúdo do livro escrito no quadro. Depois de 90 minutos de aula só copiando, aquela aula já ficou chata para ele e os dedos dele precisavam de pelo menos 10 minutos de repouso. Tudo isso eu escutava dos alunos diariamente.

FOTO: professora Patrícia Nascimento

Neste ano ainda também não chegaram para os meus alunos da escola as apostilas de Língua Inglesa e os dicionários de Inglês. Os livros e os dicionários de inglês do ano anterior se encontravam na sala de leitura da escola municipal Jorge Ayres de Lima sob a responsabilidade da professora Patrícia Nascimento que era ligada a orientadora pedagógica Conceição (Maria da Conceição da Silva Pereira), mas como a orientadora Conceição atrapalhava o meu trabalho na escola e me perseguia inclusive com condenações administrativas, para mim era dito que não havia livros e que os livros ainda não tinham chegado.

 FOTO: ORIENTADORA PEDAGÓGICA Conceição

Eu tive a certeza confirmatória de que havia livros sim depois que o outro orientador pedagógico que saiu da escola municipal Jorge Ayres de Lima chamado Evenilson da Penha foi na sala de leitura, peitou a situação, pegou livros e dicionários que tinham na sala de leitura e distribuiu para alguns dos meus alunos. Também posteriormente, a professora Patrícia Nascimento, em uma das suas indiretas, provocações e deboches que me fazia, falava sobre quem seriam os beneficiados que receberiam os livros que se encontravam na sala de leitura da escola Jorge Ayres de Lima, sendo que os meus alunos por mais um ano não os receberiam. A professora Patrícia Nascimento dizia isso como se fosse louvável ela deixar de entregar a apostila e o dicionário de inglês para alunos de minhas turmas, e ainda por cima orgulhosa e feliz de me relatar que havia livros sobrando na sala de leitura da escola municipal Jorge Ayres de Lima que meus alunos não puderam usar no ano anterior.

Na Escola Municipal Jorge Ayres de Lima, turma da sétima série da outra professora recebeu as apostilas enquanto a sétima série da sala ao lado onde eu dava aulas não recebeu o  mesmo material didático

Depois dos 3 primeiros meses ainda não havia a lista de chamada das turmas por disciplina escolar para que eu pudesse fazer as anotações da frequência também. Na minha opinião, esta listagem devia ser entregue no início do ano, no primeiro dia de aula para que pudesse fazer o registro desde o princípio do ano letivo. A chamada, diários de classe, foi entregue mais pro meio do ano como sempre. Isso atrapalhou tudo porque muda aluno de turma, várias mudanças ocorrem, tem que começar a fazer registro de situação que já ocorreu há meses como se fosse feito naquele momento e ainda por cima, quando entregaram no meio do ano, exigiram que tudo fosse registrado de forma apressada em um prazo mínimo como sempre.

 Várias questões problemáticas com relação aos diários de classe

As turmas passam de 50 alunos cada. Para mim é bastante cansativo atender a um número de alunos maior do que o permitido pela Lei que deveria ser de no máximo 40 alunos. A minha vontade era poder sentar perto de cada um e dar uma atenção individualizada, pois cada aluno reage de um jeito e tem a sua dificuldade própria, mas nesse sistema de tanta gente em sala de aula não tem como deixar todos os demais alunos sem atenção e dar atenção apenas a um.

 Turmas superlotadas ocorriam na rede municipal de educação de Belford Roxo

Todo ano esses problemas se repetiam: ausência da chamada, dos diários de classe, entrega da chamada para o meio do ano, prazo para registrar a chamada correndo, turmas com mais alunos do que era permitido por lei, faltas de carteiras no início do ano ... 


Por isso eu nunca fiz questão de dar aula extra, de fazer contrato para dar mais aulas na escola e ganhar mais como muitos outros professores se articulavam desde o primeiro dia na escola a fim de continuarem a ter  esses benefícios. Eu acho que era impossível eu dar mais aulas do que eu já dava se isso não implicasse na diminuição da qualidade daquilo que eu fazia, no aumento do meu estresse profissional, do meu cansaço, etc. Eu acho que por isso mesmo havia essa prática de professores que faziam dobras deixarem a turma quieta, os alunos calados, imóveis nas salas sem abrir a boca ou passando o tempo todo copiando do quadro e cansando os seus dedos.

O diretor José Carlos Neto era um dos professores que se beneficiavam com dobras, muitas vezes ele saía da escola indo para lugares que não cabe a mim revelar porque era parte da vida pessoal dele mesmo ele não tendo respeito pela vida íntima dos outros. Ele deixava turmas sozinhas em estado de rebelião generalizada, mas nunca ele sofria qualquer tipo de punição na escola, bem como os outros professores que faziam parte desse grupo que faziam horas extras. Eu não desejava o mal  de ninguém, mas percebia que mínimos detalhes como procedimentos que eu fazia em meu trabalho de sala de aula era motivo para relatório e reunião condenatória enquanto atitudes condenáveis de outros professores conhecidas publicamente  eram toleradas como assediar sexualmente alunas da escola.

A orientadora Conceição disse que eu nunca seria contemplada com aulas extras na escola Jorge Ayres. Eu sabia que ela não me queria bem e que ela tinha preconceito comigo, mas eu realmente não fazia a menor questão de fazer aula extra, nem ganhar o dinheiro a mais por essas aulas.

Eu pegava 3 ônibus todos os dias. Carregava 2 bolsas e 1 pasta. Andava para tirar cópias para 480 alunos e carregava esse peso todos os dias.

O aparelho portátil eu não conseguia carregar mais, a minha coluna não deixava. Eu não aguentava mais o peso de tudo isso porque o ônibus que eu pegava, o Mantiquira, vinha cheio de alunos nesse horário. Não tinha lugares para sentar. Ao passar das marchar ficava difícil de se equilibrar com pesos, e viajar a pé com bolsas prejudicava a minha coluna.

Eu me esforçava para fazer o bem as pessoas. Eu procurava respeitar as pessoas. Enquanto eu tive condições de superar o preconceito e as dificuldades que me levavam ao adoecimento mental eu usei do dom que Deus me dava para fazer o bem, eu amei as pessoas verdadeiramente com o coração puro, eu respeitei e me doei ao trabalho dedicadamente e tinha sempre a sensação do dever cumprido e realizado todos os dias.



Infelizmente eu vivenciava o menosprezo, o silenciamento, o descaso e o preconceito por mim e pelo que eu dizia baseado nas minhas experiências como professora do município. As salas quentes e abafadas, as cadeiras duras, as turmas superlotadas, a desvalorização profissional, o desrespeito profissional, o assédio moral, o bullying escolar, o preconceito, a homofobia, a transfobia, o racismo, o adoecimento psíquico e mental em virtude do trabalho, os constrangimentos, as perseguições, as ameaças de morte, tudo isso eu vivenciei e vivenciava enquanto professora da rede municipal de Belford Roxo. Mas graças a Deus, quando eu tinha condições de superar todas essas barreiras e dificuldades e mesmo em muitos momentos de tribulação nas escolas por causa do preconceito, da desvalorização do nosso trabalho e da nossa dignidade enquanto pessoa, funcionária pública e profissional da educação, muitos alunos amavam estudar nas minhas aulas e muitas mães elogiavam o meu trabalho.

(Professora Faiza Khálida Fagundes Coutinho - Prefeitura Municipal de Belford Roxo, matrículas 5508 e 14725, Identidade 09089680-4, CPF 024114147-81)


Louvado seja O Senhor Jesus Cristo para sempre.