

O lixão de Belford Roxo é uma das comunidades mais pobres do Rio.
Reportagem de Jaime Gonçalves Filho e fotos de Moskow mostram seres humanos vivendo no lixo , entre porcos e urubus.

"Quando vem um pãozinho embalado e eu vejo que não está estragado, dou para as crianças", diz.
A situação é a mesma para as demais 30 famílias que moram ali e disputam com os outros catadores garrafas, latas e papelão vendidos para a reciclagem. Solange da Silva Izidoro, 50, mudou-se para lá há 10 anos. Com sete filhos e grávida do oitavo, arrecada cerca de R$ 50 por semana, renda completada com o salário de motorista do marido. "A gente se mudou para cá porque não tinha como pagar aluguel. Aqui a gente também não paga água nem luz", explica.

A costureira Mônica Valéria Barata, 38, é uma das voluntárias que se mobilizam anualmente para juntar as cestas na ONG Ação da Cidadania e levá-las para os moradores do lixão. "O problema é que nunca é suficiente. Eu dou prioridade aos que moram aqui. Quando acaba, as pessoas choram, mostram os filhos com fome. A gente se sente um nada", lamenta.
Amanhã ela e a tia distribuirão insuficientes 160 cestas no lixão. Ao contrário do que se poderia esperar, a notícia da entrega não gera reações entusiasmadas. . O importante é que minha família vai ter hoje o que comer"
Brincadeiras no lixo

Em Belford Roxo, o ambiente é desolador. As pessoas catam e põem na boca qualquer alimento que encontram. Os restos de alimentos são disputados também por cachorros, porcos e bois.
"É de cortar o coração, você ver crianças comendo alimentos mofados e molhados nesse lugar imundo", diz Mônica Valéria, uma das voluntárias do Natal Sem Fome. no verão, com sol forte, o cheiro azedo do lixo se acentua; com a chuva, as valas feitas para escorrer o chorume do lixo transbordam e alagam as ruas já cheias de lama. "As crianças chegam à escola fedendo. Aí ninguém quer ir", diz a catadora Solange da Silva Izidora. Em meio à dureza do cotidiano, há espaço para brincadeiras. Cabeças de bonecas servem de brinquedos. E um rapaz saca do lixo uma máquina fotográfica velha e finge fotografar a equipe.
Eu só preciso de paz
Em época de festas e consumo desenfreado, era de se esperar que os mais necessitados nutrissem sonhos imensos. Não é o que acontece com a população do Lixão Babi. Nenhuma das pessoas ouvidas pela reportagem do Q! disse ambicionar bens materiais. O ex-vigia Valtenci dos Santos, 63, sonha alto, mas coletivamente. "Tudo que me falta é paz. Só isso", conta, depois de dizer que há 8 anos é catador do lixão. O trabalho lhe rende uma média de R$ 300 mensais para sustentar a família.
Valtenci encontra no avanço da tecnologia a razão para que um número tão grande de pessoas viva do lixo. "Isso são as máquinas ocupando o espaço da mão-de-obra humana. Ainda mais para uma pessoa na minha idade. Hoje, uma pessoa com 35 anos já está velha."
Fotos de Moskow
Reportagem de Jaime Gonçalves Filho
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo para sempre.